Impactos da Quarta Revolução Industrial na sociabilidade

Por:
KELLY MARIANA MOTTA RIBEIRO - kelly.motta@aluno.ufop.edu.br

Nossa sociedade atual é dominada pela tecnologia e isso já não é uma novidade para a maioria das pessoas. Segundo dados revelados pela PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), coletada pelo IBGE, 155,2 milhões de brasileiros com 10 anos ou mais possuem aparelho celular para uso pessoal, representando 84,4% da população a partir dessa idade em 2021. Uma outra pesquisa de 2021, divulgada pelo Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGVcia), aponta que o Brasil possui 440 milhões de dispositivos digitais, entre computadores, tablets e smartphones.

 

Esses dados são importantes para ilustrar o quanto estamos envolvidos pelos meios tecnológicos nas mais diversas áreas e formas. Dificilmente você conhece alguém do seu círculo social que não possui uma rede social ou que não utilize a internet, seja por qual for o motivo. A nova geração, que já nasceu cercada por esse meio digital, desconhece um mundo sem uma ferramenta de pesquisa - como o Google, por exemplo - sem a facilidade dos aplicativos na palma da mão. Quando pensamos no impacto das tecnologias nas nossas vidas, esse impacto não é somente individual, é coletivo. Elas impactam o mundo do trabalho, o modo de produção da sociedade, a educação, a economia.

 

Um mundo sendo modificado pela tecnologia foi o marco da Terceira Revolução Industrial com início na década de 60, como apresenta Schwab (2016), que explica que “ela foi impulsionada pelo desenvolvimento dos semicondutores, da computação em mainframe (década de 1960), da computação pessoal (década de 1970 e 1980) e da internet (década de 1990)” (p. 19).

 

O autor defende que nos dias de hoje, após a virada do século, estamos vivenciando um novo momento, uma nova revolução industrial. A quarta revolução industrial é baseada na revolução digital e caracterizada por uma internet globalmente difundida, com sensores menores e mais poderosos, por uma inteligência artificial e por aprendizado de máquinas. As tecnologias não são necessariamente novas, mas têm causado rupturas em relação à terceira revolução industrial e estão tendo um impacto ainda maior na sociedade, no desenvolvimento e na economia mundial. Ele explica que ela cria um mundo onde sistemas virtuais e físicos cooperam e que não diz respeito apenas a sistemas e máquinas inteligentes, é muito mais amplo. Nas palavras do autor:

 

Ondas de novas descobertas ocorrem simultaneamente em áreas que vão desde o sequenciamento genético até a nanotecnologia, das energias renováveis à computação quântica. O que torna a quarta revolução industrial fundamentalmente diferente das anteriores é a fusão dessas tecnologias e a interação entre os domínios físicos, digitas e biológicos. Nessa revolução, as tecnologias emergentes e as inovações generalizadas são difundidas muito mais rápida e amplamente do que nas anteriores, as quais continuam a desdobrar-se em algumas partes do mundo. (SCHWAB, 2016, p. 20).

 

Pensando no impacto que a terceira revolução causou na sociedade e nas relações, a quarta revolução chega com a possibilidade de um impacto ainda maior. A capacidade de produção e armazenamento de informações nos dias atuais é algo que era inimaginável para gerações passadas. A Inteligência Artificial (IA) chega como um conjunto de tecnologias que tem objetivo de imitar capacidades neurais humanas com base em um gigante conjunto de dados. É desenvolvida para atuar tanto em grandes indústrias quanto para facilitar o cotidiano humano.

 

Mesmo imersos na sociedade da tecnologia, as implicações que podemos pensar dessa nova era - ainda mais potente tecnologicamente - são diversas. Em um outro modelo de sociedade, que não fosse baseada na exploração e na desigualdade, a alteração no mundo de trabalho seria substancialmente positiva para o trabalhador, que teria seu trabalho aliviado, por exemplo. Na sociedade capitalista que precariza cada vez mais o trabalhador o efeito pode ser de uma ainda maior precarização, de desemprego, exploração e exclusão.

 

No modo de produção capitalista, onde a produção material da vida não é apenas para suprir as necessidades básicas do ser social e o lucro é sua força motriz, a desigualdade se torna um produto desse processo, ao mesmo tempo em que junto com a exploração da força de trabalho é essencial para a acumulação de capital. Sendo assim, avanços tecnológicos que em tese poderiam ser utilizados para amenizar a desigualdade estarão sob poder dos detentores do capital, que não tem esse objetivo. Entendemos que na sociedade capitalista essa igualdade não é possível e dessa forma qualquer inovação que poderia ser benéfica ao trabalhador, pode ter o efeito contrário e aprofundar ainda mais o abismo da desigualdade.

 

Existem muitos outros elementos a serem desenvolvidos e pensados, partindo do entendimento que as alterações que se encaminham com a quarta revolução industrial são muitas e complexas. A instabilidade causada pelas alterações da organização do trabalho é uma delas e pode impactar diretamente a saúde mental e física dos sujeitos. Isso acontece simultaneamente ao avanço em pesquisas genéticas, com auxílio da IA, que prometem facilitar o rastreio de doenças e suas curas. Nesse ponto sabemos que a desigualdade promovida pelo capitalismo será um divisor no que diz respeito aos benefícios e “prejuízos” dessa nova fase de sociabilidade ainda mais envolta de tecnologia.

 

Esse é um recorte das inúmeras reflexões que são possíveis diante deste cenário. Elas não vão se esgotar facilmente e devem ser aprofundadas a medida em que vivemos sob essas novas influências.

 

 

REFERÊNCIAS

CARMO, R. C. Por um fio: sofrimento do trabalhador na era de capitalismo flexível. Paco Editorial, Jundiaí, 2012

FGV. Retrospectiva 2021: Brasil tem dois dispositivos digitais por habitante, revela pesquisa da FGV. Disponível em: <https://portal.fgv.br/noticias/retrospectiva-2021-brasil-tem-dois-dispositivos-digitais-habitante-revela-pesquisa-fgv> Acesso em 22/03/2023.

IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/tabela/4892>. Acesso em 20/03/2023.

Ministério das Comunicações. Celular segue como aparelho mais utilizado para acesso à internet no Brasil. Disponível em: <https://www.gov.br/mcom/pt-br/noticias/2022/setembro/celular-segue-como-aparelho-mais-utilizado-para-acesso-a-internet-no-brasil>. Acesso em 22/03/2023.

SCHWAB, K. A quarta revolução industrial, traduzido por Daniel Moreira Miranda. São Paulo: Edipro, 2016.

 

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