As novas tecnologias e a determinação do trabalho

Por: Roberto Coelho do Carmo

As novas tecnologias são uma realidade presente em nosso dia-a-dia, como trabalhadoras e trabalhadores. Presente na compra, venda e produção de mercadorias. Saltam aos olhos as tecnologias comunicacionais, com as redes sociais funcionando como um grande mercado, e outros aplicativos, específicos para compra e venda. Se antes você precisava ter um ponto comercial no centro da sua cidade para vender seus produtos, hoje, uma conta no Instagram resolveria a questão. Na produção de mercadorias da grande indústria, a robótica faz crescer a produtividade do trabalho, contudo, ao mesmo tempo em que representa uma facilidade para o trabalho na produção, na lógica capitalista, tende a gerar desemprego estrutural. Por isso mesmo devemos refletir até que ponto estes avanços seriam positivos para nós.

Fonte: br.freepik.com/fotos-vetores-gratis/chamadaHoje temos uma enorme oferta de conteúdo: música, programação de computador, produção de vídeo entre outros. Você pode ver um vídeo sobre crítica de cinema enquanto almoça ou ouvir seu podcast favorito enquanto caminha até o trabalho.  Da mesma forma que a escrita representou um grande salto para humanidade, permitindo ao gênero humano gerar uma “memória externa”, registrando um conhecimento que seria passado adiante. Também a tecnologia representa um novo momento dessa difusão. Contudo, ao mesmo tempo em que podemos consumir conteúdos que potencializam nosso desenvolvimento, também existem conteúdos que, por exemplo, sustentados no negacionismo do conhecimento científico, atrofiam este desenvolvimento, podendo ter consequências perturbadoras para o coletivo da sociedade. Neste caso, como saber se um conteúdo é bom ou não seria a questão a ser debatida. A solução para esta questão de avaliação do conteúdo, acreditamos que está no trabalho de formação política e intelectual nas organizações da classe trabalhadora, das escolas e universidades com ensino presencial de qualidade.

Da mesma forma que julgamos que um conteúdo é bom ou não, também julgamos se uma ferramenta é adequada ou não para uma finalidade. Nós determinamos o seu uso. Nós decidimos se essa ou aquela ferramenta tecnológica ajuda ou não no nosso trabalho. Uma assistente social poderia decidir se determinado mecanismo de comunicação é adequado ao seu trabalho, ou ainda o moto-fretista poderia entender ser vantagem aderir ao uso de aplicativos de pedido de comida para aumentar o número de suas viagens e de seu faturamento. Neste caso, o limite da tecnologia seria o limite da reflexão ética de cada trabalhador ou coletivo de trabalhadores. Quer dizer, a assistente social conseguiria manter o sigilo no seu atendimento, ou ainda, o moto-fretista estaria transportando produto lícito? Enfim, se são os sujeitos quem determinam o uso das ferramentas no seu trabalho, então, o limite no uso das tecnologias seria ético.

Em todos os casos, as tecnologias são postas também por força da alienação do trabalho. Vimos muito isso durante o período pandêmico. Muitas dessas tecnologias nos foram empurradas de cima para baixo, sem a possibilidade de aferir seus pontos positivos e negativos. Afinal, nesta sociabilidade em que vivemos, entre a manutenção da vida e a manutenção da produção, o resultado são mais de 675 mil mortes no Brasil e mais de 6,38 milhões de mortes no mundo todo.

Contudo, e se a tecnologia é que usa o sujeito, e não o contrário? Explico. A finalidade de boa parte das tecnologias da comunicação não é levar conteúdo ou aproximar pessoas. Este é o meio. A finalidade é ter seu perfil enquanto consumidor de mercadorias. Então com a mediação da difusão de conteúdo e facilitação na comunicação, acumula-se um volume de dados enorme sobre você. A finalidade é você, como mercadoria. Isso tudo, não muda que nós determinamos o uso de nossas ferramentas, mas permite enxergar que há um Grande Outro[1], sempre vigiando, observando nosso comportamento, convertendo essa informação em mercadoria, acessível a quem puder pagar por ela. O Grande Outro, não muda o potencial positivo da tecnologia, mas a sua existência, deve ser considerada nas avaliações éticas que fazemos às determinações que damos aos nossos instrumentos tecnológicos.

 

[1] Cf. Zuboff, S. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um capitalismo humano na nova fronteira do poder. 1. Ed. – Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.